só e imóvel a velar, encardido pelo sol e pelo tempo, testemunho de prantos, lamentações e orações.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Amor não correspondido



Débora amava Everaldo desde criança. E desde criança ele sempre a tratava como uma irmãzinha mais nova. Estava sempre por perto, ajudava a segurar todas as barras, secava suas lágrimas, a fazia rir, a levava para lá e para cá quando ela estava sem carro, até pagava as dívidas do seu cartão de crédito, mas não queria ir além daquilo. “Somos amigos, quero ser seu amigo para sempre!”. Mas ela queria mais, ela queria abraços que os transformassem em um só, queria beijos de tirar o fôlego, queria cenas de ciúmes, queria cartas de amor, serenata, sexo, carinho, quatro filhos, uma casa amarela, dois cachorros e um gato. Já tinha dito para ele, com todas as letras, ” eu te amo”, tinha se descabelado, tatuado o nome dele na pele com henna, dançado nua, pixado as paredes do quarto, mudado de cidade cinco vezes para segui-lo nas trocas de emprego, tinha se humilhado, implorado, chorado, gritado, tinha feito tudo o que as mulheres apaixonadas fazem e ido mais além. Ele continuava indiferente, oferecendo as migalhas de uma amizade que a torturava, mas sem a qual não sabia viver. Um dia, Débora desencantou. Ocorreu no dia em que aquele cara novo tinha entrado na sala de aula, sorrido para ela e perguntado se ali era a turma de Literatura Comparada I. Depois, puxou a cadeira sem cerimônia, sentou ao lado dela, pegou seu caderno de capa lilás e escreveu: “Oi, me chamo Orlando e você tem os olhos verdes mais bonitos que já vi na vida”! O mundo voltou a mover-se, a henna desbotou, uma pintura no quarto apagou o nome de Everaldo, outra pintura riscou por cima o de Orlando, tatuado com agulha, em letras verdes e brilhantes, na pele de Débora. A casa dos dois era amarela, mas o jardim tinha todas as cores. Tiveram dois filhos e duas filhas. Havia dois cachorros, o gato Snack e a coelha Pretinha…Everaldo? Corre atrás dela até hoje. Se descabela, implora, pinta seu nome nas paredes, se humilha, promete o céu, a lua, chora e lamenta o tempo perdido.






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